quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Carta de aniversário de namoro

Sabe a metade da laranja, a tampa da panela? Aquele discursinho piegas e cheio de coraçõezinhos que todo mundo fala?

Pois é. Eu sempre achava que nunca ia precisar daquilo. Que eu me bastava e ponto final. Gostava de homens que não prestavam, que não davam a mínima pra mim – mas nem eu mesma dava. Achava que tava tudo bom daquele jeito, e que felicidade-perfeita-amor-pra-vida-toda-casamento-e-filhos era historinha de novela – ou dos romances que eu tanto lia.

Mas você apareceu. Lembra como foi?

Eu tinha acabado de passar no vestibular. Namorava um cara meio nada a ver, que (se é que é possível) se importava menos ainda com as coisas que eu gostava, que era do tipo piazão que adora dar piti por ciúmes, mesmo sem motivo. Mesmo com menos de dois meses de namoro, eu já sabia que não ia pra frente. E fui pra aquele acampamento sabendo que, na volta, eu ia terminar tudo. Isso foi em 2 de fevereiro de 2007.

Naquele ônibus, dando risada, conversando, reparei que aquele cara que eu pouco via na igreja estava lá também. “Que estranho, a namorada dele não tá junto”. – Sim, era estranho ver um cara conhecido como ‘o namorado da fulana’ sem a fulana por perto, ainda mais louca do jeito que ela era. Fazer o quê? Você tava conversando com o cara que eu mais conhecia ali, amigo-de-uma-amiga.

O povo foi separado em equipes. Sábado de manhã era hora de ralar queijo pro almoço. Lá fomos nós, lembra? E você falava que sempre ralava o queijo porque era o único que não ficava comendo – e eu só tava ali porque queria comer. Teu irmão chegou e perguntou o porquê de você não estar de aliança. Foi aí que eu soube que você não tava mais namorando. Mas nada mudou pra mim, eu ainda namorava.

A tarde, você e o amigo (que hoje é bem mais que amigo-de-uma-amiga) foram descer o rio. A garota metida aqui quis ir junto, nunca tinha entrado em rio nenhum. O que vocês iam fazer? ‘Coitada dela, tá largada aqui, sem namorado, sem amigas’, devem ter pensado. E fomos nós três.

Nunca vou esquecer daquele primeiro toque. Eu, descalça, fui subir numa pedra e escorreguei. Você me deu a mão. Sério, até hoje me arrepio só de lembrar.

E a noite? Você com o pé machucado, todos jogando Imagem & Ação, e eu te chamando de ‘manquinho’.

Domingo foi o dia de ir embora. Você sentou do meu lado no ônibus, até ouviu MPB comigo (há, hoje eu sei o quão estranho foi, você ODEIA MPB). Trocamos emails, te falei sobre a minha decisão, e perguntava ‘o que você acha que eu devo fazer?’. Sacanagem, hum?!

Passa a semana. Eu dou um basta na história que eu sabia que não tinha futuro. Chega sábado, a gente se vê na igreja, sentamos juntos. A noite tem reunião dos jovens, e a gente fica junto de novo. Você vai jogar bola, me chama pra ir junto. E eu vou.

Chega domingo. Você me chama pra comer pizza com o amigo lá do acampamento e a namorada dele. “Não quero ficar de vela, vamos?”, foi a desculpa. Lá, conversando com a menina que hoje é madrinha, não entendia o motivo das risadas perplexas dos meninos – hoje eu sei, você tinha acabado de contar pra ele que tinha comprado aliança de compromisso. E que ia me pedir em namoro.

Passa a semana, eu fico desconfiada pelos teus nicks no MSN. A desculpa? “É só uma música”. Hum.

Chega sexta-feira de carnaval, dia 16. Minha mãe não sabia o caminho pra chegar no acampamento, combinamos de ir juntos. Deixamos tudo pronto e resolvemos sair pra comer, já que o acamp só começava oficialmente à noite. Você fica dizendo que quer falar comigo, então assim que estamos de volta vamos ver o pôr-do-sol perto do campo de futebol.

Aí você começa com o papo de me fazer feliz mesmo sem me conhecer direito, e eu começo a ficar nervosa. Pára tudo aqui! Como assim, alguém me pede em namoro pra me fazer feliz? Sem nunca ter tentado me dar um selinho sequer, nem nada? Não era bem assim que as coisas funcionavam pra mim... Não conseguia entender como uma pessoa conseguia colocar o bem-estar de outra tão acima de tudo dessa forma.

A minha resposta? Segundo você, um ‘não-amigável’. Pra mim, confusão: não sabia o que pensar, o que fazer, como fazer... Chorava, chorava e chorava depois que você me dava boa-noite e ia pra sua barraca. A menina que tava dormindo comigo não sabia o que fazer, então eu me apegava numa só coisa: oração. Pedia que Deus me dissesse, em alto e bom som, se era ou não pra gente ficar junto.

Mas o caminho dEle é diferente do nosso, né? No sábado, toooooodo mundo em casais, e eu e você junto. O pessoal mais velho passava e perguntava se a gente tava namorando, e você só dizia pra perguntarem pra mim. Que saia-justa, não?

Sábado a noite teve um culto muito profundo, fiquei muito emocionada pensando numa outra amiga minha, a melhor de todas, que eu sabia que não estava ali. Você me confortou, me abraçou, orou comigo...

Mas nem tudo estava bem: eu estava te machucando. E você disse pra mim que ia se afastar. E ficou longe mesmo. Nunca me doeu tanto ver uma pessoa mal, ver alguém distante de mim.

Lembra o porquê da gente voltar a andar juntos? Futebol de casais. A gente não tava jogando, claro, mas só na beira do campo assistindo todos os nossos amigos ali. De repente sai do campo um casal que até hoje eu não sei quem era, jogam a cordinha pra gente e falam “entrem aí”. O que a gente ia fazer? Jogar. De mãos dadas e amarradas.

Tudo volta quase ao normal. Menos o meu coração, que finalmente tinha entendido a resposta que eu tanto esperava ouvir. Eu não conseguia ficar longe de você, mas não sabia o porquê.

Segunda-feira, 19 de fevereiro. Jantar de encerramento do acamp. Eu e amiga, com cabelos ensaboados, e acaba a água. Desespero total, certo? Mas você estava por perto, levou a gente pra terminar o banho na tua casa. E eu vi a caixinha das alianças no teu carro.

Finalzinho da tarde, de volta ao acampamento, te pedi as chaves do carro na maior cara de pau. Em vez delas, você me entrega a caixinha e pergunta “é isso que você quer do carro?”. Nessa hora eu deixei todo o medo e a insegurança de lado, toda a mágoa dos relacionamentos anteriores, e disse que era.

Eu nunca poderia ter tido uma decisão tão acertada. A cada dia que passa, a cada ‘eu te amo’ que você me diz, a cada ‘bom dia, meu amor, dormiu bem?’ que eu escuto, a cada momento que eu percebo o quão perto está o nosso casamento, eu tenho certeza de que você é a resposta de Deus pras minhas orações. Você é que me dá forças pra aguentar tanta coisa. Você é que me dá forças pra ser quem eu sou, pra me libertar, pra seguir o meu caminho – ao teu lado.

Definitivamente, hoje eu sei que a historinha romântica e piegas é realidade. E que não poderia ser mais perfeita ou melhor escrita do que é.

Feliz 2 anos de namoro, meu amor.

por Lilian Wiczneski